Sincretismo Religioso


Salve, salve, Galerinha do bem!!!



O assunto que me traz aqui hoje é algo que se faz muito presente no cotidiano religioso do Umbandista e frequentadores de nossos terreiros que é o sincretismo religioso. Com esse pequeno texto quero expor o que é, qual a sua importância para o umbandista e nossos assistidos e como eu procuro ensinar para quem me procura essa questão religiosa.

Acredito que uma dos primeiros elementos que compõem um Terreiro de Umbanda e que chama atenção de todos que adentram ao espaço religioso é, sem sombra de dúvidas, nossos altares que alguns chamam de congá, peji, etc. Em geral são compostos por imagens de Santos Católicos, imagem do Divino Espírito Santo, imagens de caboclos, pretos velhos, etc.

A questão do altar na Umbanda e no Candomblé é muito diferente principalmente no que diz respeito às imagens, pois o Candomblecista, em sua grande maioria, não aceita o sincretismo religioso instituído entre seus Orixás, Nkices, Voduns e os Santos Católicos por terem muito claro que seus Orixás não podem ser representados por santos pelo fato de serem a força viva da natureza, assim sendo, como Xangô sendo a força viva do fogo poderia ser representado por São Jeronimo?

O que já vi em fotos de alguns terreiros de Candomblé é que a grande maioria, no salão, não há o altar como vemos na Umbanda mas existem outros elementos de fundamento e forças do terreiro de forma que a religiosidade se processa de outra forma, sem a necessidade do visual para que ocorra.

É preciso entender algumas coisas a respeito do sincretismo religioso. O Sincretismo religioso é a analogia feita entre Orixá e Santo Católico tendo como base a história de vida do Santo Católico e as qualidades e características do Orixá que é sincretizado. O Sincretismo apresenta algumas variâncias de uma região para a outra. Em Salvador São Sebastião é sincretizado com Ogum e não Oxóssi como ocorre em São Paulo.

O Sincretismo religioso no contexto das religiões de matriz africana surge ainda no Brasil Colônia, período quem a escravatura ainda vigorava em nossas terras. A Coroa Portuguesa sempre teve como religião oficial o Catolicismo Romano e quando iniciou seu processo de expansão territorial através das expedições marítimas.

Como todo dominador, a Coroa Portuguesa impôs às suas colônias a sua fé na Santa Sé (Igreja Católica Apostólica Romana) não admitindo nenhuma outra manifestação religiosa em suas terras.

No processo de colonização houveram tentativas de escravizar os nativos que aqui viviam, mas por
não estarem habituados ao trabalho pesado e forçado e não terem resistência às doenças trazidas pelo europeu a tentativa de escravizá-los não logrou êxito. Foi então que resolveram escravizar o povo africano de composição corporal mais robusta e já adaptados ao trabalho pesado.

O que os europeus não contavam é que eles podiam cercear a liberdade, escravizar o corpo mas a fé e a alma estas jamais conseguiriam subjugar. E assim foi com os africanos trazidos ao Brasil de forma violenta e desumana apesar de toda a violência sofrida era a fé em seus Orixás, Voduns, Nkices que os mantinha vivos.

Como forma de tentar conter fugas e rebeliões os senhores de escravos colocavam em uma mesma senzala africanos de nações diferente, por vezes até grupos inimigos para que a possibilidade de problemas fosse a menor possível, no entanto, a diferença e o sofrimento acabou tendo efeito contrário.

Conforme dito anteriormente a Metrópole impôs à colônia sua fé e proibiu que os escravos fizessem seus batuques acusando-os de feitiçaria e os ameaçava torturar ou matar caso insistissem em continuar fazendo o culto à suas divindades. Então os escravos africanos foram obrigados a adotar nomes cristãos e a língua de seu "senhor" assim como sua fé.

Assim o dominador passou a acreditar que o risco de serem vítimas de feitiços havia sido mitigado e passaram a permitir aos escravos que aos domingos após a missa fizessem seu batuque como uma forma de "lazer" o que eles não contavam é que os africanos encontrariam uma forma de celebrar sua fé de acordo com a sua ancestralidade de forma ao menos similar à que era feita quando viviam na Mãe África.

Isso se deu por que o africano mais esperto que o colonizador passou a adotar as imagens católicas de barro cozido em seus altares, porém, o engenho estava em cavocar essas imagens de barro e às vezes até de madeira e colocar dentro das imagens os fundamentos de suas divindades. Quando o colonizador os via deitados de bruços com a testa tocando o chão acreditava que estavam reconhecendo a superioridade do santo e se dobrando ao seu poder. Mas o que não sabiam é que os africanos estavam reverenciando a força que vivia dentro da imagem e não o pedaço de material esculpido e pintado.

No contexto Umbandista essa questão do sincretismo religioso ocorre como uma forma de buscar um ponto de referência para aqueles que chegam à Umbanda vindo de outras religiões em especial da Igreja Católica por já estarem acostumados à presença das imagens de Santos dentro do rito Católico. Em geral olhar para o altar e ver as imagens traz um alento diminuindo o medo do desconhecido trazendo segurança para essa pessoa que pisa pela primeira vez em um terreiro de Umbanda.

É fundamental deixar claro que apesar de existir o sincretismo religioso dentro da Umbanda, nós Umbandistas, temos total consciência de que Jesus Cristo NÃO é Oxalá, São Jorge NÃO é Ogum e assim por diante.



Meu abraço fraterno a todos.



Pai Daniel
O Japa Umbandista.

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